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“Normal” ou “Anormal” eis a Questão!

Conseguir diferenciar a normalidade da “anormalidade” é dos problemas mais comuns e frequentes das ciências médicas e humanas.

Desde muito cedo, principalmente na psicologia e na psiquiatria, um dos maiores problemas foi delimitar a fronteira entre o “normal” e o “patológico”, ou seja, “saúde mental” de “doença mental”. Os limites e fronteiras do “normal” ao contrário do que se pensa não são fixos e imoveis, mas extremamente flexíveis.

Historicamente “essa fronteira” é constituída através das crenças, valores e tradições vigentes numa determinada época e num determinado espaço. O que hoje é normal, noutra época poderia ser extremamente patológico. Um comportamento numa dada sociedade e cultura, pode ser considerado normal, enquanto noutra cultura pode ser um comportamento patológico ou desviante.

Se tentar-mos ser mais objetivos, podemos definir “normais” quando as atitudes e comportamentos correspondem aos padrões e expectativas do “sistema”. Qualquer atitude/comportamento “desviante” desses padrões, estariam definidos no DSM e no CID, seriam necessariamente “patológicos”. Porém, não podemos esquecer que esses mesmo livros são constituídos num contexto socio-histórico-cultural específico e não universal. Isto é esses livros são constituídos com base na “normalidade” de um conjunto de culturas e sociedades, contudo existirão muitas outras “culturas” que não entraram na sua construção.

Um exemplo claro de que por detrás dos critérios objetivos que apresentam estão bases subjetivas de valores, culturas, épocas, sociedades. Refiro-me à homossexualidade, que apenas foi considerada “normal” no DSM a partir de 1974, porém acredito que em muitas culturas isso já era normal e pelo contrário acredito que em muitas outras continue a ser considerado patológico.

Surge então as questões:

  • Será que os sintomas nos podem dizer se a pessoa é mais ou menos saudável?
  • Será que é normal a total ausência de sintomas?
  • Será normal uma total ausência de medos, problemas ou emoções negativas?
  • Se experienciarmos algo negativo, não será normal reagirmos negativamente?

Visto isto, é possível concluir que existem várias perspetivas de normalidade, além de cada comportamento deve ser contextualizado para ser devidamente avaliado.

Vou então descrever um pouco das várias perspetivas:

Normal enquanto Saúde: nesta perspetiva, ninguém é completamente normal. Porém só se considera patológico quando a pessoa possui sintomas que prejudiquem a sua vida diária (trabalho, família, socialização, etc.);

Normal enquanto frequência estatística: nesta perspetiva, normal é o mais frequente. Tudo o que “não entra” nessa frequência não é normal. Contudo a carie dentária que afeta 95% da população, poderia ser considerada normal, visto que é mais frequente encontrar uma pessoa com a “doença” do que sem ela. O mesmo acontece com algumas doenças mentais.

Normal enquanto normas, valores ou regras definidos socialmente: esta perspetiva, provavelmente a mais correta, porém temos de ter consciência de que esta definição pressupõe algo constantemente dinâmico e mutável, pois o que hoje é saudável amanha pode não ser e vice-versa.

Normal enquanto algo que nos devemos aproximar: Nesta perspetiva a “normalidade” é vista como um objetivo a alcançar, como um culminar de um caminho. “Normal” é algo que devemos atingir e ambicionar.

Normal enquanto processo dinâmico de adaptação: nesta perspetiva “normal” é tudo o que está perfeitamente adaptado, logo o anormal ou patológico deve-se a uma desadaptação à sociedade, à família, etc. No entanto como tudo está em constante mutação, estamos simultaneamente em vários processos de adaptação.

Normal enquanto norma funcional: nesta perspetiva normal é quase sinónimo de funcional. Uma pessoa é normal enquanto “funcionar” corretamente, perante o meio e perante si próprio.

Concluindo: Não existe uma única, simples e satisfatória definição para o conceito de normalidade. Logo, o conceito de normalidade é algo dinâmico e relativo, deve ter em conta o contexto, bem como o próprio sujeito, já que muitas vezes a “anormalidade” está na “normalidade”.

E você, é Normal?

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